Meu Diário Antigo - Desgastado
Secreto

Diário de Infância

Memórias de um tempo dourado
20XX

Era como eu escutasse o silêncio, de criança correndo para lá e para cá , se sujando, e suas gargalhadas que enche o coração de uma tristeza nostálgica de um tempo que não se volta mais.

-Ei Guilherme, vem logo! O caminhão de sorvete tá saindo – comentava isso, e um garoto, em seguida, corria na minha direção.

-Por que não me avisou antes?? Já vou! – corríamos sem parar, em direção ao caminhão de sorvete.

-Quem chegar por último paga pelos dois!!! – e disparava logo em seguida, nunca corri como naquele dia.

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Os adultos não gostavam muito de nós dois juntos, pois éramos como uma encrenca em dobro, porém, sinto que eles admiravam a amizade também, para nós, era como se fôssemos inseparáveis.

-Droga, você é muito lerdo Guilherme!! – dizia um pouco emburrado. Perdemos o sorvete por sua culpa!

-Eu? – exaltava-se com indignação. Falei que era para ter avisado antes !!!! - dizia cada vez mais aborrecido. Sério, que depois daquilo você ainda fica sendo idiota?? - visível a indignação e tristeza estampada no seu rosto, sinto que para ele era como se eu tivesse-o apunhalado.

- Você ainda tá bravo??? Só por que ela veio falar comigo algumas vezes?? Para com isso!! – falei com um tom de surpresa, e de raiva, eu nunca realmente estive interessado e, além disso, ele era um garoto popular, acima da média, não via motivos pra indignação.

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-Claro!! Você sabia o que eu sentia!! - olhava de forma revoltante em minha direção.

-Você não consegue nem pagar um sorvete pro seu amigo, e ainda quer arranjar uma namorada? Tsk- disse, eu, amargurado. Guilherme ficou calado por um século de segundos, e eu sentia a minha garganta com um nó dentro dela, a medida que o silêncio ficava cada vez mais deplorável, ele disse.

–Okay, disse - vamos fazer assim. Apontava em direção ao gira-gira – quem aguentar mais no gira-gira ganha, falou confiante.

–É roleta, respondi como coesão – e beleza, eu aceito o desafio.

Fomos para o gira-gira, que, mesmo naquela época ainda rangia e tinha uma cor vermelha desbotada, pela falta de manutenção. Entramos no brinquedo e teve um momento de silêncio, no fundo, eu não queria fazer isso.

-Desde sempre sou bom em testes de resistência – dizia ele com certo orgulho.

-Vamos ver – falei com tom de escárnio

-O que estamos esperando? – apressado, Guilherme deu o primeiro impulso pro giro, o que não surtiu muito efeito, até que eu dei continuidade ao seu próximo impulso, e começávamos a girar enquanto ignorávamos o sons incomuns e o cheiro de ferrugem, afinal, era uma disputa, que para a gente, valia a vida.

Sentia que minha cabeça estava fora do lugar, que meu cérebro ia sair a qualquer momento ou que voaria para a estratosfera, íamos mais rápido, mais rápido, e ainda mais rápido, muito mais rápido, até não conseguirmos pisar no chão ou adicionar mais impulso. O mundo já não fazia sentido, conseguia distinguir mais nada, achei que iria voltar no tempo.

-Meu deus, meu deus, meu deus – acho que Guilherme dizia isso mas era quase impossível saber, tentava parar o brinquedo, sentia que toda comida ia voltar, até que os indícios vieram a tona e ouvi um som de algo que não deveria acontecer, quase simultaneamente ao som, a vibração passou por todo o brinquedo.

- Hã? – Quando pisei no chão, meu sentidos ainda não tinham voltado, meu equilíbrio era de um cachorro que recentemente perdeu a pata, ouvia um choro familiar de alguém, muitas pessoas em volta, cochichando e algumas gritando, o desespero tomou o lugar. Via minha transgressão em Guilherme e chorei em resposta e depois disso, nunca mais falamos.

Será que mereço seu perdão?